3 de dezembro de 2009

Essa pessoa copia posts dos outros como se fossem seus!

Ela copia e cola textos de outros blogs e não cita a fonte (exatamente o que este meu singelo blog é contra, né!?)!

Mas não é por não ter noção, pq quando copia texto de jornal, ela cita a fonte.

Será que a intenção é "piratear" o talento alheio para pesquisar e escrever algo de bom?

Vi a denúnica no blog Terapia Floral da Carol, que acompanho e adoro, aqui: um post indignado.

Vejam o post clonado da Carol (ela avisa: tem como mais recente post o meu texto publicado dia 30 de novembro no MSN, Reaqueça sua vida sexual com o título alterado para Florais para reacender a sexualidade e sensualidade. Fofo, né?)

Saude Integrada: Florais para reacender a sexualidade e sensualidade. A Chama da Paixão

Que feio!

2 de novembro de 2009

Viver sem tempos mortos - Simone de Beauvoir

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Referência:

Viver sem tempos mortos. Direção: Felipe Hirsch. Texto: baseado nos escritos de Simone de Beauvoir. Atriz: Fernanda Montenegro. Peça apresentada no Teatro Fashion Mall, Rio de Janeiro, em outubro de 2009.

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Comentários:

Entrei muito suspeita com a interpretação minimalista. Fernanda chega, senta na cadeira no meio do palco e conta a história de Simone como sua. Só quando percebi que 1 hora tinha passado como se fossem 5 minutos é que me dei conta de quanto estava hipnotizada por ela e pela história. Bom, eu amei! ;o)

E anotei algumas frases que me tocaram.

OBS:
(1) Coloquei o nome de Miss de Beauvoir no título deste post pq, em princípio, as frases são dos textos dela...
(2) Dois posts no mesmo dia na tentativa de compensar a minha ausência em outubro. Foi mês de muuuuiiiito trabalho!

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Trechos selecionados:

"O mundo, por um instante, é exatamente o que meu coração pede."

"Nada é mais difícil que entregar-se ao instante. Esta dificuldade é dor humana, nossa. Eu me entrego em palavras."

"Somo todos mortais e patéticos. {pequena pausa) O choque dessa frases só mostra como somos patéticos."



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O Burguês Fidalgo - Molière

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Referência:

Molière. O Burguês Fidalgo. Tradução: Octavio Mendes Cajado. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

ATENÇÃO! Este mesmo livro também contém as obras "Escola de Mulheres", trad. Millôr Fernandes (é a mesma obra, mas não é a mesma referência do post anterior), e "Tartufo", trad. de Jacy Monteiro.

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Comentário:

Título original: Le Bourgeois Gentilhomme. A peça foi escrita cerca de 4 anos antes da morte de Molière (no livro "Mestres do teatro I, John Gassner não dá o ano exato", por isso o "cerca de").

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Personagens dos trechos selecionados:

Sr. Jourdain é o burguês que quer se tornar culto como os nobre para conquistar uma moça bem mais jovem, apesar de ele ser casado. Para isso, ele contrata o Mestre da Dança e o Mestre da Música.

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Trechos selecionados:

Os Mestres conversam enquanto aguardam Sr. Jourdain para início de mais uma aula.

"Mestre da Música:
É certo que entende pouco, mas paga bem; e disso necessitam muito mais agora nossas artes que de qualquer outra coisa.

Mestre da Dança:
Quanto a mim, confesso-o, também me alimento um pouco de glória; enternecem-se os aplausos; e sou de parecer que em todas as belas artes, é um doloroso suplício exibir-se a gente aos tolos, e submeter composições à barbária de um estúpido. Não queira negar que há prazer em trabalhar para pessoas capazes de sentir a delicadeza de uma arte, de acolher com agrado as belezas de uma obra, e de premiar-nos o trabalho com lisonjeiras aprovações. (...)"
(pgs. 292 e 293)


[cada mestre quer mostrar que sua arte é a mais importante - música e dança]

"Sr. Jourdain:
Como assim?

Mestre da Música:
Não provém a guerra de uma falta de união entre os homens?

Sr. Jourdain:
É verdade.

Mestre da Música:
Ora, se todos os homens aprendessem música, não seria esse o meio de se acordarem eles, estabelecendo no mundo a paz universal?

Sr. Jourdain:
Tens razão.

Mestre da Dança:
Quando um homem comete um erro na vida, seja em negócios da família, seja no governo de um Estado, seja no comando de um Exército, não se diz sempre: 'Aquele sujeito deu um mau passo em tal negócio?'

Sr. Jourdain:
Sim, é o que se diz.

Mestre da Dança:
E dar um mau passo pode provir de outra coisa que do não saber dançar?

Sr. Jourdain:
Isso é verdade, ambos têm razão.

Mestre da Dança:
Só queremos mostrar-lhe a excelência e a utilidade da dança e da música."
(pgs. 300 e 301)

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7 de setembro de 2009

Orgulho e Preconceito - 2 de X

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Referência:

AUSTEN, Jane. Orgulho e Preconceito. Tradução: Lúcio Cardoso. Coleção Grandes Sucessos. São Paulo: Abril Cultural, 1982.

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Comentário:

Muitos trabalhos me impedem de postar o que tenho lido e a pilha está aumentandooo! Mas o feriadão ajuda a tirar o atraso.

Mais sobre o livro, no post anterior: aqui!

Estou pensando em reorganizar os posts de O&P por temática... que tal?

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Trechos selecionados:

[O que está entre colchetes são explicações minhas!]


[No primeiro baile, Mr. Bingley insiste que Mr. darcy dance e sugere Lizzy Bennet como par. Sobre ela e em resposta:]
[MR. Darcy] - É tolerável, mas não tem beleza suficiente para tentar-me. Não estou disposto agora a dar atenção a moças que são desprezadas pelos outros homens. É melhor você voltar ao seu par e se deliciar com os sorrisos dela, pois está perdendo seu tempo comigo.
(pg. 15)

[a autora descrevendo as irmãs de Mr. Bingley]
"...tinham portanto as aptidões necessárias para pensar bem de si mesmas e mediocremente dos outros. Provinham de uma família respeitável do norte da Inglaterra, coisa que guardavam mais profundamente impressa em sua memória do que o fato de sua fortuna, bem como a do irmão, ter sido adquirida no comércio."
(pg. 19)
Obs: Não acrescentei vírgulas, deixei como está no livro.

[a autora descreve o que Mr. Darcy achava da irmã de Lizzy, Jane Bennet, pretendente do amigo, Mr. Bingley]
"Reconhecia que Miss Bennet era bonita, embora sorrisse demais."
(pg. 20)

[Ainda sobre o 1º baile... sobre as críticas de Mr. Darcy que Lizzy ouviu sem querer. Falam Mrs. Bennet, Lizzy e Miss. Charlotte Lucas]
- Se eu fosse você, Lizzy - disse a mãe -, na próxima vez me recusaria a dançar com ele.
- Creio que posso lhe prometer com segurança que nunca dançarei com ele.
- O orgulho dele não me ofende tanto - disse Miss Lucas - como o orgulho em geral, porque existe um motivo. Não é de admirar que um rapaz tão distinto, com familia, fortuna, tudo a seu favor, tenha de si mesmo uma alta opinião. Se posso exprimir-me assim, ele tem o direito de ser orgulhoso.
- Isto é bem verdade - replicou Elizabeth -, e eu perdoaria facilmente o seu orgulho se ele não tivesse mortificado o meu.
(pgs. 22 e 23)

[Miss Charlotte Lucas para Lizzy]
"... Existe tanta gratidão e vaidade em quase todas as afeições que é perigoso abandoná-las à sua sorte - todos podemos começar livremente, uma ligeira preferência é bastante natural, mas são poucos os que têm o coração bastante firme para amar sem receber alguma coisa em troica. Em noventa por cento dos casos, uma mulher deve mostrar mais afeição do que realmente sente.(...)"
(pgs. 24 e 25)


[a autora descrevendo a decisão das irmãs Jane e Lizzy bennet de irem embora da casa dos Bingley e voltarem para casa, pois Jane já estava melhor de saúde]
"A notícia arrancou muitos protestos de pura formalidade. E tanto insistiram para que as moças ficassem ao menos até o dia seguinte, que Jane cedeu. E a partida foi adiada para a manhã seguinte. Miss Bingley se arrependeu de ter feito semelhante proposta, pois o ciúme e a antipatia que tinha por uma das irmãs excedia muitíssimo a afeição que tinha pela outra."
(pg. 59)

[Mr. Bennet é chamado pela esposa para fazer a filha Lizzy mudar de idéia e aceitar o pedido de casamento do Mr. Collins, homem que pai e filha desprezavam]
"- Você está diante de uma alternativa difícil, Elizabeth. De hoje em diante você terá que se tornar uma estranha para um de seus pais. Sua mãe nunca mais olhará para você se não se casar com Mr. Collins. E eu nunca mais a verei se você se casar."
(pg. 106)

[a autora, sobre o momento que se seguiu à recusa de Lizzy à proposta de casamento de Mr. Collins]
"Enquanto isto, Mr. Collins meditava, na solidão, sobre o que tinha acontecido. Ele possuía uma opinião desmasiado alta de si mesmo para compreender o motivo por que a prima o recusava."
(pg. 107)

"-Então, Lizzy - disse ele um dia -, sua irmã teve um desgosto amoroso, creio eu. Ela merece meus parabéns. Depois do casamento, o que uma moça mais aprecia é um desgosto amoroso de vez em quando. É uma coisa que dá o que pensar e lhe confere uma espécie de distinção entre as companheiras. Quando chegará a sua vez? Você não há de querer ser suplantada por Jane. Chegou a sua hora. Há bastante oficias em Meryton, para desapontar todas as moças da região. Escolha Wickham. É um sujeito simpático e lhe daria o fora agradavelmente."
(pg. 129)

[Lady Catherine de Bourgh questionando Lizzy em um jantar em Rosings]
- O quê? As cincos de uma vez? É muito estranho. E você é apenas a segunda! As mais moças já frequentam a sociedade antes de as mais velhas se casarem! Suas outras irmãs são muito moças?
- A mais moça ainda não fez dezesseis anos. talvez seja um pouco cedo demais para fazer vida social. Mas realmente, minha senhora, acho que seria uma crueldade recusar-lhes a sua parte de distrações e sociedade só porque a mais velha não teve os meios ou a inclinação para se casar mais cedo. As mais moças têm os mesmos direitos aos prazeres da mocidade que as mais velhas. E trancá-las em casa creio que não seria um bom meio de promover a feição fraternal ou a delicadeza de sentimentos.
- Sob minha palavra - disse Lady Catherine -, você dá sua opinião muito decididamente para uma pessoa de tão pouco idade. Diga-me, quantos anos tem?
- Com três irmãs mais moças já crescidas - replicou Elizabeth -, Vossa Senhoria não pode esperar que eu lhe dê uma resposta.
Lady Catherine pareceu ficar atônita com a resposta e Elizabeth suspeitou que ela tinha sido a primeira pessoa que já ousara fazer pouco de uma tão pomposa impertinência.
- Você não pode ter mais de vinte anos, portanto não precisa esconder a idade.
- Ainda não fiz vinte e um anos."
(pgs. 153 e 154)
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9 de agosto de 2009

Orgulho e Preconceito - Jane Austen - 1 de X

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Referência:

AUSTEN, Jane. Orgulho e Preconceito. Tradução: Lúcio Cardoso. Coleção Grandes Sucessos. São Paulo: Abril Cultural, 1982.

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Comentário:

Há um tempão sem postar, mas por boas causa: minha peça deste semestre e trabalhinhos extras.

Estou relendo O&P e notei que não tenho ainda Jane Austen na minha coleção! Então resolvi digitar algumas das minhas frases preferidas do Senhor Bennet, que é um dos meus personagens preferidos!

Ah! É tb minha homenagem ao dia dos pais!

CURIOSIDADES:

(1) Título original é "Pride and Prejudice".

(2) Há diversas adaptações audiovisuais. A mais recente (que eu conheço) é com Keira Knightley e Matthew MacFayden, dirigido por Joe Wright. Tem o mesmo nome do livro.

(3)Jane Austen escreveu apenas 6 livros (em português e na ordem de publicação): Razão e Sensibilidade, Orgulho e Preconceito, Mansfield Park (há uma adaptação para cinema que recebeu o nome de "Palácio das Ilusões"), Emma, A Abadia de Northanger e Persuasão.

(4) Na introdução do livro escrita pelo tradutor Lúcio Cardoso sobre a autora:

"O seu primeiro romance publicado foi Sense and Sensibility*, no ano de 1811. Antes, porém, com o título First Impressions, ela tinha oferecido aos editores a versão inicial de Orgulho e Preconceito. É claro que o original foi imediatamente recusado. Voltando ao silêncio do seu retiro primitivo, dividindo-se entre os seus piedosos exercícios de cristã convicta e as pequenas obrigações da existência burguesa a que se submetia, Jane Austen continua a trabalhar no romance recusado. No ano de 1813 aparece finalmente Orgulho e Preconceito, onde é minuciosamente estudada a sociedade daquele tempo, a mediocridade dos seus tipos, o ridículo dos seus hábitos, a vaidade e a tolice dos burgueses e nobres que o preconceito separava.
Rigorosamente construída, antes de mais nada essa obra era prodigiosa revelação do temperamento de uma romancista. Nada escapa ao seu lúdico olhar, nenhuma fraqueza, nenhum ridículo dessa gente que ela conhecia tão bem. (...) Orgulho e preconceito é sua obra-prima." (pgs. 5 e 6)

OBS:
"*Sense and Sensibility" é traduzido tanto como "Razão e Sensibilidade" quanto como "Razão e Sentimento".

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Personagens dos trechos selecionados:

Mr. Bennet é o pai das irmãs Bennet, entre as quais está a protagonista Elizabeth bennet.

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Trechos selecionados:

[O que está entre colchetes são explicações minhas!]

[sobre Mr. Bingley que chegará no povoado]

[MR. BENNET] - É casado ou solteiro?
[MRS. BENNET] - Oh, solteiro, naturalmente, meu caro. Solteiro e muito rico! Quatro ou cinco mil libras por ano. Que boa coisa para as nossas meninas, hem?
[MR. BENNET]- Como assim? De que modo pode isso afetá-las?
(pg. 7)


[MR. BENNET para MRS. BENNET]
- Está enganada, minha cara. Tenho muito respeito pelos seus nervos. São meus velhos amigos. Venho escutando você falar a respeito deles com grande consideração, pelo menos durante esses últimos vinte anos.
(pg. 9)



" [MRS. BENNET]- Não tussa desse modo, pelo amor de Deus, Kitty. Tenha um pouco de piedade dos meus nervos... Você os está dilacerando!
- Kitty não sabe tossir discretamente - disse o pai. - não tem noção do momento oportuno."
(pg. 10)


"- Espanta-me, meu caro - disse Mrs. Bennet - a facilidade com que você diz que suas próprias filhas são tolas. Se quisesse menoscabar os filhos de alguma pessoa, decerto não escolheria os meus.
- Se minhas filhas são tolas, espero nunca me iludir a este respeito."
(pg. 32)

"- Bem, minha cara mulher - disse Mr. Bennet, depois que Elizabeth acabou de ler o bilhete em voz alta -, se a sua filha caísse gravemente doente, se ela morresse, seria um conforto saber que foi tudo para conquistar Mr. Bingley e por ordem sua."
(pg. 34)



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25 de junho de 2009

Tartufo - Molière

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Referência:

Molière. Tartufo. Tradução: Jacy Monteiro. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

ATENÇÃO! Este mesmo livro também contém as obras "Escola de Mulheres", trad. Millôr Fernandes (é a mesma obra, mas não é a mesma referência do post anterior), e "O Burguês Fidalgo", trad. de Octavio Mendes Cajado.

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Comentário:

Apesar do alarde, nem achei a melhor obra de Molière até agora (das que li). Por enquanto, é a mais crítica de forma evidente (acho que todas são críticas, mas algumas são mais debochadas... achei essa quase didática).

Este livro foi traduzido do original em francês, cujo título é " Le Tartuffe" (é de1664)e o nome verdadeiro de Molière era Jean-Baptiste Poquelin (1622-1672).

Possui notas - muito interessantes - de Robert Jouanny para a edição francesa de Éditions Garnier Frères.

CURIOSIDADES:

(1) Nas minhas aulas de teatro, soube que "Tartufo" foi censurada e por 6 anos não pôde ser encenada. Molière, que tinha formação como advogado, defendeu sua obra alegando que ela não criticava a fé, mas os maus religiosos. Mas a obra só foi "liberada" depois que ele mudou o final, introduziu o personagem "Senhor Leal" e mostrou o Rei(Luís XIV) como soberano justo que desmascara as falsidades.

(2) No livro "Mestres do Teatro I", John Gassner conta que Tartufo foi proibido pelo rei e que, após essa censura, Molière escreveu Don Juan, dando vida a uma "lenda" que existia desde a Idade Média. Ele faz considerações sobre a época:

"A França era varrida por uma reação contra a crescente vaga de ceticismo religiosos e científico. O pensamento liberal era denunciado pelas seitas religiosas, entre as quais as mais ativas eram os Jesuítas e os Janenistas. A devoção se transformava em moda e nem todas as suas manifestações eram desinteressadas e sinceras. (...) Custou ao autor ser acusado de ateu por aqueles cujas sensibilidades haviam sido ofendidas. (...) Insistiu que não havia atacado a religião e sim a forma pela qual podia ser usada para disfarçar o interesse próprio."

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Personagens dos trechos selecionados:

Orgon é o chefe de família que recebe Tartufo como hóspede em sua casa e fica cego com suas evocações religiosas.

Mariane é filha de Orgon.

Dorine é dama de companhia de Mariane, filha de Orgon.

Cléante é cunhado de Orgon.

Valère é o pretendente de Mariane.

Elmire é a segunda mulher de Orgon (ele é viúvo e bem mais velho que ela) e madrasta de Mariane e Damis.


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Trechos selecionados:


DORINE:
[para Senhora Pernelle, mãe de Orgon, sobre uma dama conhecida que ela cita]

"O exemplo é admirável e esta dama é boa! É verdade que vive como pessoa austera, mas foi a idade que lhe meteu na alma esse zelo ardente e sabe-se que é pudica contra a própria vontade. Enquanto pôde atrair as homenagens de muitos corações, gozou de todas as vantagens de que dispunha; vendo, porém, diminuir o brilho de seus olhos, propõe-se renunciar ao mundo que a abandona, mascarando a debilidade de seus atrativos já gastos com o véu pomposo de uma grande sabedoria. São essas as vicissitudes das coquetes do tempo. Para elas é duro ver os galantes baterem em retirada. Em tal abandono, a sombria inquietação não lhes concede outro recurso senão o de representar o papel de mulher pudica; e a severidade dessas mulheres de bem tudo censura e nada perdoa; censuram acerbamente a vida de qualquer um, não por caridade mas impelidas pela inveja, que não poderia permitir que outra gozasse dos prazeres, cujos desejos o declínio da idade já extinguiu."
(pgs. 17 e 18)


CLÉANTE:
[para Orgon, sobre os bons e honestos devotos]

"(...) neles não se vê esse fasto insuportável e a devoção deles é humana, é tratável; não se metem a censurar-nos todas as ações. Acham que é orgulho demasiado corrigir a todos e abandonando aos outros a arrogância das palavras, é com suas ações que procuram corrigir as nossas. Para eles a aparência do mal não tem grande importância e são levados sempre a pensar bem do próximo. Nada de intrigas, nada de conluios com eles. Sua única preocupação é procurar viver bem; nunca se escarniçam contra um pecador qualquer; odeiam somente o pecado e não pretendem esposar, com zelo extremo, os interesses do Céu mais do que o próprio Céu.(...)"
(pgs. 30 e 31)


DORINE:
[para Orgon, sobre ele querer forçar a filha a casar-se com Tartufo]

"(...) Saiba que se arrisca a virtude de uma moça quando se lhe contraria o gosto no casamento; que a intenção de viver honestamente depende das qualidades do marido que se lhe dá; e aqueles que, em toda parte, são apontados com o dedo, muitas vezes fazem das próprias mulheres o que elas são."
(pg. 42)


VALÈRE:
[para Mariane, achando que ela queria trocá-lo por Tartufo]

"(...) Coração que nos esquece nos lança um desafio e é preciso, para esquecê-lo, usar de todos os meios: se não se conseguir, deve-se pelo menos fingir. E não se perdoa nunca a covardia de demonstrar amor a quem nos abandona."
(pg. 59)


TARTUFO:
[para Elmire, quando ela finge gostar dele para desmascará-lo]

"Posso dissipar-lhe esses temores ridículos, minha senhora, pois conheço a arte de afastar os escrúpulos. De fato, o Céu proíbe certos contentamentos;(é um celerado que fala)* mas sempre se acha uma maneira de acomodar; conforme necessidades diversas, existe uma ciência destinada a estender os liames de nossa consciência e retificar o mal da ação com a pureza da intenção.(...)"

*trata-se de uma rubrica de Molière.

(pg. 109)

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26 de maio de 2009

Escola de Mulheres - seleção 2 de 2

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Referência:

Molière. Escola de Mulheres. Tradução: Millôr Fernandes. São Paulo: Círculo do Livro. (não tem data de publicação).

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Comentário:

Este livro foi traduzido do original em francês, cujo título é " Lécole des Femmes" e o nome verdadeiro de Molière era Jean-Baptiste Poquelin.

Arnolfo é um burguês esnobe e afetado. Ele tutela uma camponesa de origem pobre desde 6 anos de idade. Como parte de um plano para não ser corno, ele lhe garante uma educação bem porca, para que ela seja mesmo uma ignorante eternamente grata à condição social que tal casamento lhe traria. No entanto, a moça, Inês, se apaixona por um rapaz, Horácio.

Neste trecho, Arnolfo dá à Inês uma cartilha para que ela estude e se prepare para o casamento deles dois.

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Trechos selecionados:

"Inês (Lê.)
Lições do casamento ou os deveres da mulher casada. Com exercícios diários.

Primeira lição
A mulher que uma união legal
leva ao leito de um homem
não esqueça esta moral:
apesar do que se vê por aí,
o homem que a tomou,
tomou-a só pra si.

Segunda lição
Só se deve enfeitar
até onde o desejar
omarido que a sustenta;
pois só a ele interessa
sua pele lisa ou sardenta.
A uma esposa recomenda
que outros a achem horrenda.

Terceira lição
Longe expressões estudadas
óleos, pinturas, pomadas,
esses mil ingredientes
que fazem um rosto querido.
Usados diariamente
são drogas mortais pra honra:
esse sacrifício todo raramente é pro marido.

Quarta lição
Ao sair, como a virtude ordena,
deve esconder debaixo de um capuz
a indiscrição do olhar.
Para agradar totalmente ao marido
a ninguém mais deverá agradar.

Quinta lição
Fora dos que o marido convida,
não deve dar acolhida
nem receber mais ninguém.
Esses galanteadores
que só tratam com as senhoras
enfeitam muito os senhores.

Sexta lição
Dos homens, qualquer presente
tem que recusar, veemente.
Pois a época é safada:
ninguém dá por nada.

Sétima lição
Por mais que isso a aborreça
caneta, tinta e papel
deve tirar da cabeça.
A ignorância é um escudo.
Num lar realmente honrado
o marido escreve tudo.

Oitava lição
Jantar de muito talher
- em geral de caridade! -
corrompe sempre a mulher.
Deve pois ser proibido,
pois é lá que se conspira
contra a testa do marido.

Nona lição
Para a honra conservar
o jogo tem que evitar
como um defeito funesto,
pois o vício enganador
leva a mulher, muitas vezes,
a perder o jogo e o resto.

Décima lição
Não deve andar na roda
de piqueniques no campo
nem de festinhas da moda,
pois sabem os experientes
que todo esse circular,
de uma ou de outra maneira,
o marido é que vai pagar."

(pgs. 55 a 57)


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11 de maio de 2009

Escola de Mulheres - seleção 1 de 2

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Referência:

Molière. Escola de Mulheres. Tradução: Millôr Fernandes. São Paulo: Círculo do Livro. (não tem data de publicação).

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Comentário:

Gente, estou lendo Molière e ele é fantástico!!!! Engraçadíssimo e inteligentíssimo. Realmente é "O cara"!

Este livro foi traduzido do original em francês, cujo título é " Lécole des Femmes" e o nome verdadeiro de Molière era Jean-Baptiste Poquelin.

Arnolfo é um velho que decide casar com uma camponesa pobre bem mais nova que ele. Como costume da época (provavelmente a peça é de 1662), Arnolfo teria se oferecido para tutelar a jovem Inês, dando-lhe moradia e educação, mas ele tb a mantém isolada da sociedade para garantir sua ingenuidade e pureza.

Crisaldo é um vizinho.

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Trechos selecionados:

Arnolfo [p/ Crisaldo]:
"... Acho que no teu casamento você encontra motivos para recear pelo meu. Na tua cabeça, é evidente, existe a certeza de que os chifres são o adorno infalível de qualquer matrimônio.

Crisaldo:
São acidentes contra os quais ninguém está garantido; e quem se preocupa com isso não passa de um idiota."
(págs. 7 e 8)


Arnolfo:
"... mas uma mulher esperta é mau presságio; eu sei o que custou a alguns casarem com mulheres cheias de talentos; me caso com uma intelectual, interessada aprenas em conversas de alcova, escrevendo maravilhas em prosa e verso, freqüentada por marqueses e gente de espírito, e fico sendo apenas o marido de madame, discreto a um canto, como um santo sem crentes. Não, não. Agradeço esses espíritos cheios de sutilezas. Mulher que escreve sabe mais do que é preciso."
(pg 10)



Crisaldo:
"Que absurdo; abandonar o nome dos pais e adotar outro, baseado apenas em quimeras. Muita gente hoje em dia não resiste a isso, e - sem que haja no que conto qualquer comparação - conheço um tipo chamado Pedroso que, nada tendo de seu além de um pequeno quintal, mandou abrir uma vala em volta dele e passou a se chamar pelo nome pomposo de Barão da Ilha."
(pg. 14)


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10 de maio de 2009

Hamlet - seleção 4 de 4

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Referência:

Shakespeare, William. Hamlet. Tradução: Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM, 2007.

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Comentário:

A fina ironia de Shakespeare caçoando dos puxa-sacos do Rei!

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Trechos selecionados:

"Polônio: Meu Princípe, a Rainha gostaria de lhe falar. E imediatamente.

Hamlet: Estás vendo aquela nuvem ali, quase em forma de camelo?

Polônio: Pela santa missa, eu diria que é um exato camelo.

Hamlet: Pois me parece mais um esquilo.

Polônio: É; tem a corcova de um esquilo.

Hamlet: Ou será uma baleia?

Polônio: É! Uma perfeita baleia.

Hamlet: Então vou ver minha mãe agora mesmo. (À parte) Brincam comigo até onde eu aguente. (Aos outros) Eu volto logo."

(pág. 83)


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Hamlet - seleção 3 de 4

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Referência:

Shakespeare, William. Hamlet. Tradução: Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM, 2007.

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Comentário:

Frases famosas! A última citação não é famosa, mas eu gosto! ;o)


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Trechos selecionados:

"Há mais coisas no céu e na terra, Horácio,
Do que sonha a tua filosofia."
(pág. 40)


"Ser ou não ser - eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e flechadas do destino feroz
Ou pegar em armas contra o mar de angústias -
E, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir;
Só isso. E com o sono - dizem - extinguir
Dores do coração e as mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável. Morrer - dormir -
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas do amor humilhado, as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal? Quem agüentaria fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão porque o terror de alguma coisa após a morte -
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante - nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar os males que já temos,
A fugirmos pra outros que desconhecemos?
E assim a reflexão faz de todos nós covardes.
E assim o matiz natural da decisão
Se transforma no doentio pálido do pensamento.
E empreitadas de vigor e coragem,
Refletidas demais, saem de seu caminho,
Perdem o nome de ação."
(pág. 67)


"Ó, coração, não esquece tua natureza; não deixa
Que a alma de Nero entre neste peito humano.
Que eu seja cruel, mas não desnaturado.
Minhas palavras serão punhais lançados sobre ela;
Mas meu punhal não sairá do coldre.
Que, neste momento, minha alma e minha língua sejam hipócritas;
Por mais que as minhas palavras transbordem em desacatos
Não permita, meu coração, que eu as transforme em atos!"
(pág. 83

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8 de maio de 2009

Hamlet - seleção 2 de 4

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Referência:

Shakespeare, William. Hamlet. Tradução: Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM, 2007.

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Comentário:

Hamlet é o príncipe da Dinamarca e Polônio é um camarista do Rei (e um tremendo puxa-saco).


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Trechos selecionados:

Hamlet (a Polônio, se referindo aos atores):"... É preferível você ter um mau epitáfio depois de morto do que ser difamado por ele, enquanto vivo."
(pg. 62)


"Hamlet:...
Não é monstruoso que esse ator aí,
Por uma fábula, uma paixão fingida,
Possa forçar a alma a sentir o que ele quer,
De tal forma que seu rosto empalidece,
Tem lágrimas nos olhos, angústia no semblante,
A voz trêmula, e toda sua aparência
Se ajusta ao que ele pretende? E tudo isso por nada!"
(pg. 63)

"... Ouvi dizer
Que certos criminosos, assistindo a uma peça,
Foram tão tocados pelas sugestões das cenas,
Que imediatamente confessaram seus crimes;
Pois embora o assassinato seja mudo,
Fala por algum órgão misterioso. (...)"
(pág. 64)

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23 de abril de 2009

Hamlet - seleção 1 de 4

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Referência:

Shakespeare, William. Hamlet. Tradução: Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM, 2007.

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Comentário:
Cada vez que releio descubro mais sobre a obra e entendo melhor porque fez (faz) sucesso por tanto tempo! ;o)

OBS: Polônio é um Lord camarista do Rei, pai de Laertes e Ofélia.

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Trechos selecionados:

"Polônio:
Ainda aqui, Laertes! Já devia estar no navio, que diabo!
O vento já sopra na proa de teu barco;
Só esperam por ti. Vai, com a minha benção, vai!
(Põe a mão na cabeça de Laertes.)
E trata de guardar estes poucos preceitos:
Não dá voz ao que pensares, nem transforma em ação um pensamento tolo.
Amistoso, sim, jamais vulgar.
Os amigos que tenhas, já postos à prova,
Prende-os na tua alma com grampos de aço;
Mas não caleja a mão festejando qualquer galinho implume
Mal saído do ovo. Procura não entrar em nenhuma briga;
Mas, entrando, encurrala o medo no inimigo,
Presta ouvido a muitos, tua voz a poucos.
Acolhe a opinião de todos - mas você decide.
Usa roupas tão caras quanto tua bolsa permitir,
Mas nada de extravagâncias - ricas, mas não pomposas.
O hábito revela o homem,
E, na França, as pessoas de poder ou posição
Se mostram distintas e generosas pelas roupas que vestem.
Não empreste nem peça emprestado:
Quem empresta perde o amigo e o dinheiro;
Quem pede emprestado já perdeu o controle de sua economia.
E, sobretudo, isto: sê fiel a ti mesmo.
Jamais serás falso pra ninguém
Adeus. Que minha bênção faça estes conselhos frutificarem em ti."
(pgs. 29 e 30)


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16 de abril de 2009

Central Park West

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Referência:


ALLEN, Woody. Central Park West. In: Adultérios. Tradução: Cássia Zanon. Porto Alegre, RS: L&PM Pocket, 2007.

P.S.: Tradução de "Three one-act-plays", acho que de 1974.

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Comentário:


Esta é a terceira peça do livro (são três). Já postei trechos da primeira e da segunda.

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Trechos selecionados:


"Carol: Qual foi o motivo que ele deu?

Phyllis: Que ele não me ama mais... não gosta de ficar perto de mim... que fica com falta de ar de se imaginar passando de novo pela triste coreografia de fazer sexo comigo. Esses são os vagos motivos que ele dá, mas acho que só está sendo educado. Na verdade, acho que ele não gosta da minha comida."
(pg. 131)


"Phyllis: Ela vai deixar você. Vai embora com outro homem.

Howard: Como assim?

Phyllis: Assim, você dançou... acabou a mulherzinha... ela está dando para o meu marido há três anos e vai ficar com ele.

Carol (a Phyllis): Você é destestável.

Phyllis: Estou mentindo? Feche a bioca, Howard.

Howard: Isso é verdade, Carol?

Carol: Sam e eu nos apaixonamos... não queríamos magoas ninguém.

Howard (sentando-se lentamente): N-não... claro que não.

Phyllis: Meu Deus, você não vai ficar bravo?

Howard: Para quê? Isso não vai desfazer as coisas.

Phyllis: Há um momento para ser racional, e um momento para perder as estribeiras... eu deixo as facas de carne na cozinha."
(pgs 150 e 151)


"Phyllis: Que loucura é esta? Estou sendo penalizada por todo mundo porque sou um sucesso? Minha irmã, meus amigos, meus maridos...

Howard: As pessoas nunca nos odeiam pelas nossas fraquezas... elas nos odeiam pelos nossos pontos fortes."
(pg. 178)



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15 de abril de 2009

Bloqueio Criativo - Riverside Drive

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Referência:


ALLEN, Woody. Bloqueio Criativo. Riverside Drive. In: Adultérios. Tradução: Cássia Zanon. Porto Alegre, RS: L&PM Pocket, 2007.

P.S.: Tradução de "Three one-act-plays", acho que de 1974.

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Comentário:


É a primeira peça do livro (são três). Já postei trechos da segunda peça também. Confira aqui!

OBS: Fiquei fora me março viajando pelo mundo. Estou de volta! ;o)

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Trechos selecionados:


"Jim: Fred, não vou matá-la.

Fred: Não vai?

Jim: É algo psicótico... você é psicótico.

Fred: E você é só neurótico... de modo que tenho muito a ensinar. Sou hierarquicamente superior a você."
(pg. 52)


"Jim: Olhe aqui, não estou dizendo que não estou numa situação terrivelmente complicada. Não estou dizendo que não teria sorte se a Barbara... Se ela...

Fred: Pode dizer.

Jim: Morresse. Mas ela é um ser humano.

Fred: Você diz isso como se fosse uma coisa boa."
(pg. 59)

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26 de fevereiro de 2009

A Hora da Estrela

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Referência:


LISPECTOR, Clarice. A Hora da Estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.

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Comentário:


Este livro é uma edição acompanhado de CD duplo com o texto inteiro narrado pelo Pedro Paulo Rangel. Em outras palavras, vem acompanhado de um audio book. Eu ouvi ele todo e amei!

É uma experiência muito peculiar ouvir Miss Lispector, especialmente em se tratando deste livro que é escrito em primeira pessoa e que traz as divagações de um escritor (um personagem, Rodrigo S.M.) enquanto escreve uma história.

Para localizá-lo com mais facilidade, o ISBN: 85-325-2127-4.

Ah! A dedicatória da autora é narrada pela cantora brasileira Maria Bethânia.

P.S: Clarice tem uma forma diferente de pontuar e, por isso mesmo, reproduzo sua pontuação.

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Trechos selecionados:


[São pensamentos/falas de Rodrigo S. M. que escreve sobre uma mulher nordestina.]

"Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida." (pq. 9)

"Porque há direito ao grito.
Então eu grito.
Grito puro e sem pedir esmola."
(pg. 12)

"Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?" (pg. 15)

"Se tivesse a tolice de se perguntar 'quem sou eu?' cairia estatelada e em cheio no chão. É que 'quem sou eu?' provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto." (pg. 15)

"Apaixonei-me subitamente por fatos sem literatura - fatos são pedras duras e agir está me interessando mais do que pensar, de fatos não há como fugir." (pgs. 15 e 16)

"Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite." (pg. 18)

"A classe alta me tem como um monstro esquisito, a média com desconfiança de que eu possa desequilibrá-la, a classe baixa nunca vem a mim." (pq. 19)

"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias." (pg. 22)

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17 de fevereiro de 2009

Bloqueio Criativo - Old Saybrook

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Referência:


ALLEN, Woody. Bloqueio Criativo. Old Saybrook. In: Adultérios. Tradução: Cássia Zanon. Porto Alegre, RS: L&PM Pocket, 2007.

P.S.: Tradução de "Three one-act-plays", acho que de 1974.

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Comentário:


É a segunda peça de teatro do livro (são três). Acho que a tradução não está muito boa... mas, enfim! Adoro esse cinismo sarcástico.

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Trechos selecionados:


[sobre a reação de sua mulher ao descobrir que ele a traía]
"MAX: Tentou se afogar. Correu para o mar, mas tudo o que conseguiu foi ser queimada por uma água-viva. Ficou com os lábios inchados. De repente, com aqueles lábios inchados, ela ficou sexy, e eu voltei a me apaixonar. Claro que quando os lábios desincharam, ela voltou a me deixar irritado." (pg. 109)

"HAL: Ah, por favor, não é preciso ser príncipe para sofrer... há milhões de pessoas por aí que são torturadas como Hamlet. São Hamlet tomando Prozac."(pg. 113)

"SANDY: Mas qual a diferença entre perdoar e simplesmente varrer todos os problemas para debaixo do tapete?
MAX: Perdoar é muito mais magnânimo... é preciso ser uma pessoa generosa... o perdão é divino.
JENNY: E talvez seja a mesma coisa, mas parece melhor."
(pg. 114)


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5 de fevereiro de 2009

Gullar Completo - declaração em entrevista para jornal

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Referência:


Peço PERDÃO antecipado, mas não encontrei a forma correta de escrever essa referência... então escrevo como eu entendi! ;o)


BERTOL, Rachel. Gulllar Completo. Jornal O Globo. Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 2008. Caderno Prosa & Verso, pg. 1.

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Comentário:


Achei interessante a declaração do poeta na entrevista sobre o lançamento do livro contendo suas obras completas (de poemas, algumas declarações de autores e textos dele próprio inéditos)... inspirador, já que tb quero viver de arte e me deparo com a angústia de não poder planejar a vida.

O livro lançado em 2008 chama-se "Poesia completa, teatro e prosa" da editora Nova Aguilar com 1138 pgs. (No jornal diz que custa R$229,90)

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Trecho selecionado:


"Eu vou escrevendo, não planejo nem livro, nem a vida. A minha vida é um improviso. Nunca planejei nada do que fiz. Na poesia, então, isso é total, eu não controlo. É o espanto da vida, dos momentos, que me faz escrever. Se não acontece nada, se nada me espanta, eu não escrevo. " (pg. 1)


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23 de janeiro de 2009

Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres

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Referência:


LISPECTOR, Clarice. Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

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Comentário:


Li este livro no terceiro ano do segundo grau... e ele me marcou muito. Foi o primeiro que mexeu realmente comigo. Nunca esqueci deste trechinho ainda no início do livro que achei genial!

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Trecho selecionado:


"Pareceu-lhe então, meditativa, que não havia homem ou mulher que por acaso não se tivesse olhado ao espelho e não se surpreendesse consigo próprio. Por uma fração de segundo a pessoa se via como um objeto a ser olhado, o que poderiam chamar de narcisismo mas, já influenciada por Ulisses, ela chamaria de: gosto de ser. Encontrar na figura exterior os ecos da figura interna: ah, então é verdade que eu não imaginei: eu existo.

E pelo mesmo fato de se haver visto ao espelho, sentiu como sua condição era pequena porque um corpo é menor que o pensamento - a ponto que seria inútil ter mais liberdade: sua condição pequena não a deixaria fazer uso da liberdade."
(pgs. 19 e 20)

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21 de janeiro de 2009

A Alma Imoral - seleção 5 de 5

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Referência:


BONDER, Nilton. A Alma Imoral - Traição e tradição através dos tempos. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

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Comentário:


Última seleção!

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Trechos selecionados:


"Ousaria dizer que tudo que é positivo para a vida é o que não se dissimula" (p.22)

"A lei, o privilégio concedido à determinada compreensão do que é certo, só se faz legítima na medida em que, dadas as condições necessárias, sua preservação possa até mesmo ser mantida através de sua desobediência." (p. 24)

"Segundo o Tratado de Sanhedrin*, em casos de julgamento de penas capitais - quando se faziam necessários 23 juízes - caso houvesse unanimidade na condenação do réu, o julgamento era desqualificado e este liberado. O sentido de tal lei, expressão da alma e obviamente subversiva, é a desconfiança de que um processo possa ser tão bem conduzido que não paire qualquer dúvida quanto a uma leitura diferente da situação. A unanimidade expressa uma acomodação à verdade absoluta que é insuportável à vida e que tem grande potencial destrutivo."
(pg. 25)


*Tratado de Sanhedrin é um texto que faz parte da tradição judaica.

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20 de janeiro de 2009

A Alma Imoral - seleção 4 de 5

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Referência:


BONDER, Nilton. A Alma Imoral - Traição e tradição através dos tempos. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

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Comentário:


Penúltima seleção! ;o) Esta, eu identifiquei como trechos sobre ética.

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Trechos selecionados:
"Ousaria dizer que tudo que é positivo para a vida é o que não se dissimula" (p.22)

“A dificuldade está em legitimar seu novo ‘correto’ de maneira verdadeira, não com argumentos ou justificativas, mas com uma crença profunda na alma e em suas transgressões.” (p. 45)

“Ser tolo é querer menos do que o ‘correto’ e ser perverso é querer menos do que o ‘bom’.” (pg. 74)

“Quando não se é ‘honesto’, ou seja, quando formas de hipocrisia vão ganhando espaço e a conduta é marcada por dissimulações, paramos de sentir satisfação.
(...)
Por isso nos é tão difícil ser honestos, pois as condições para que isso aconteça se constroem a cada instante.” (pg 79)


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15 de janeiro de 2009

A Alma Imoral - seleção 3 de 5

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Referência:


BONDER, Nilton. A Alma Imoral - Traição e tradição através dos tempos. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.


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Comentário:


Mais do mesmo! Dessa vez com indicação da peça A Alma Imoral que vi duas vezes e que me fez comprar o livro. Obrigada, Clarice, pela obra. Espero um dia trabalhar com ela. ;o)
(Mais uma Clarice marcando minha vida!)


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Trechos selecionados:



"O problema, no entanto, está no fato de que é impossível mudar sem se expor ao erro absoluto." (pgs. 19 e 20)


"A importância do presente está na responsabilidade que temos de honrar o passado e o futuro, numa medida artisticamente concebida de honrar compromissos e rompimentos." (p.22)


“O Apego ameaça e violenta a integridade de um ser humano da mesma maneira que uma traição. Somos capazes de medir a última, mas poucas vezes nos damos conta da violência que impomos à nossa alma.” (p.30)


A proposta da imutabilidade é mais que indecorosa: ela violenta um indivíduo.” (p. 39)


“Surpreender-se é, na realidade, a maior prova de poder do ser humano. Surpreender os outros é fazer uso de nossos truques já dominados; supreender a si mesmo é ser um mago diante daquele que nos julgávamos ser.
O herói do corpo é aquele que surpreende os outros e os seduz. Seus poderes são fazer uso do passado e de suas mágicas. (...)Já o herói da alma é aquele que surpreende a si mesmo e seus poderes são o que ainda não foi feito, dito, visto, falado ou escutado. O futuro e a possibilidade de não-convencionalidade são o instrumento de poder desse herói.” (p. 46)


“Porque as surpresas do relativo, das misturas, dos erros, das espontaneidades ou dos pecados fortalecem a alma e lhe ofertam seu nutriente mais importante: a evolução.” (p. 46)


“Todos nós deparamos com lugares estreitos em determinado momento. Estes lugares, que outrora serviram para nosso desenvolvimento e crescimento, se tornam apertados e limitadores.(...)
O corpo não gosta de sair, de mudar. São a estreiteza e o desconforto que o convencem de que não existe saída.”
(pgs. 47 e 48)


"Passar por um processo de mutação de maneira bem-sucedida é irromper em outro corpo que não se sabia que poderia conter nosso ‘eu’.” (pg. 51)

Achar-se – e o ancião tenta revelar este segredo ao jovem – é constituir identidades e desfazer-se delas.” (pg. 69)


“O pobre, o destituído, o estrangeiro, o marginal é mais bem preparado para levantar acampamento e seguir os caminhos da evolução do que aqueles que, bem adaptados, encontram sempre maneiras de transformar em ideologia, moral e teologia seu desejo de permanecer no lugar estreito. (...) O inconformado e o não estabelecido criam ligações mais verdadeiras com a dinâmica de vida mais próxima do desapego que do controle. Da perspectiva da alma, o pobre é mais apto que o rico, o bastardo, do que o filho mimado, o sofrido, do que o afortunado ou o que vem de longe em relação ao que vem de perto.” (pgs 110 e 111)

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Foto de divulgação da peça "A Alma Imoral" inspirada no livro.
Adaptação, concepção cência e interpretação: Clarice Niskier.
Foto: Dalton Valério
Mais infos: http://www.almaimoral.com/

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6 de janeiro de 2009

A Alma Imoral - seleção 2 de 5

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Referência:


BONDER, Nilton. A Alma Imoral - Traição e tradição através dos tempos. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

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Comentário:


Como prometido, mais citações! E tem mais por aí... estou tentando reuni-las por "temas".

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Trechos selecionados:


"Quando um cônjuge esboça transformações em sua pessoa, implicando transformações na relação, o outro muitas vezes cobra justamente os compromissos assumidos, dando um passo para trás. Não reconhece que seus direitos de apego não têm o menor valor numa relação em que o compromisso explícito é o relacionamento. Se, numa relação, alguém se modifica, o pacto é este: todos devem se colocar em movimento. A reação de dar um passo para trás – expondo carências, coletando justificativas ou evocando direitos – é um apego que, em si, é a maior das traições ao sonho assumido em pacto." (p. 31)

"Os que mudam de emprego radicalmente, o que refazem relações amorosas, os que abandonam vícios, os que perdem medos, os que se libertam e os que rompem experimentam a solidão que só pode ser quebrada por outro que conheça essas experiências. A natureza da experiência pode ser totalmente distinta, mas eles se tornarão parceiros enquanto ‘forasteiros’." (pg. 69)

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5 de janeiro de 2009

O Diário de Anne Frank

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Referência:

FRANK, Anne. O Diário de Anne Frank: edição integral. Tradução: Ivanir Alves Calado. Rio de Janeiro: Record, 1995.

Observações importantes:

>
Traduzido a partir da edição em língua inglesa chamada "The diary of a young girl".

> Anne manteve um diário de 1942 a 1944. Neste último ano ouviu numa transmissão de rádio que um membro do governo holandês (no exílio) esperava recolher testemunhos do povo holandês sob ocupação alemã. Ela decidiu reescerver e a organizar o diário, melhorando o texto, omitindo passagens que achava desinteressantes e acrescentando outras de memória. Trata-se aqui da publicação desta segunda versão. Isto é explicado no prefácio do livro (pgs. 5 e 6).


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Comentário:

Ainda estou lendo, mas não tive como não publicar esse trecho... quanta ironia do destino! Em breve, coloco mais sobre a Alma Imoral. ;o)

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Trecho selecionado:


"Escrever um diário é uma experiência realmente estranha para alguém como eu. Não somente porque nunca escrevi nada antes, mas também porque acho que ninguém se interessará, nem mesmo eu, pelos pensamentos de uma garota de treze anos. Bom, não importa. Tenho vontade de escrever, e tenho uma necessidade ainda maior de tirar todo tipo de coisa do meu peito.

'O papel tem mais paciência que as pessoas'. Pensei nesse ditado num daqueles dias em que me sentia meio deprimida e estava em casa, sentada com o queixo apoiado nas mãos, chateada e inquieta, pensando se ficaria ou sairia. Finalmente fiquei onde estava matutando. É, o papel tem mais paciência, e como não estou planejando deixar que ninguém mais leia esse caderno de capa dura que geralmente chamamos de diário, a não ser que algum dia encontre um verdadeiro amigo, isso provavelmente não vai fazer a menor diferença." (pgs. 15 e 16)

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